Nos outros nos encontramos ou perdemos.
Normalmente perdemos.
Porque o outro é sempre o adversário.
Não de nós mas da parte nossa que resiste a dar-se,
que teme a partilha.
O outro é sempre o enigma.
Decifra-lo, a impossibilidade de nos conhecermos.
Abeiro-me de ti
na medida em que me abeiro do que fui contigo,
nos teus braços,
na agonia do teu prazer.
É aí que existo.
Um tempo incerto,
uma incerteza de ter existido.
Impossível compreender este mistério.
Do outro lado da vida é tua a imagem.
Um deus vestido de mulher, carnal, sensível ao prazer.
Manhãs de delírio onde a dois reinventávamos o amor,
sabendo que a morte estava do outro lado da rua
e que o nosso tempo tinha terminado.
Mas depois regressaste com outros rostos.
Outros prazeres ou a sua negação vieram.
Todos consumidos de nostalgia.
Todos breves como o sorriso.
Simulacros do que tínhamos sido.
A sombra no espelho.
Agora não.
Nada de ti pelo menos.
Mas também nada de mim já.
Há o mundo do lado da janela que deita para a rua.
Há os que passam.
Nada de estranho.
Repetição sim, eterna como o tempo.
Às vezes passam namorados.
Raramente, devo dizer.
O amor tornou-se uma coisa estranha, imprevista.
Ou recolheu-se ao sexo, à fuga, à noite.
Tudo caminhos desconhecidos.
Gostaria que passasses do lado de fora da janela.
Ou que me entrasses pela porta dentro mesmo que para agredir.
Mas esquecemos o amor e a partilha.
O outro tornou-se definitivamente ele.
Tu, a recordação de mim.
Amarna, 29 de Maio de 2010
JC
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
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